O Zero
O Zero sentia-se vazio. Olhava para si mesmo e não gostava do que via: era aquela enorme barriga; era a incapacidade de sobressair; era a falta de um carácter vincado...
Achava mesmo que não valia nada. Já muitas vezes tentara ser esguio como o 1, elegante como o 4 ou belo como o 7, mas nem sequer conseguia a pequena proeza de esticar uma haste para se assemelhar ao 6 ou ao 9.
Era realmente uma nulidade. Mas o pior de tudo nem sequer era o aspecto, pois já se tinha habituado a isso e os outros também nunca o tinham visto de outra forma. Não, o pior nem era olhar-se ao espelho: o pior era quando olhava para dentro de si mesmo. Não valia nada, pronto! Era isso. Nunca tinha feito nada de que se pudesse realmente orgulhar; tinha as mãos vazias; nunca deixaria o nome na história ou marcas no mundo.
Não passava de um zero.